Tabela Regressiva de IR: Como Funciona e Quando Compensa
Um dos maiores benefícios de investir no longo prazo no Brasil é algo que poucos iniciantes conhecem: a tabela regressiva de Imposto de Renda. Quanto mais tempo você mantém o dinheiro investido, menos imposto paga. Vou te mostrar exatamente como isso funciona e quando realmente vale a pena.
O que é a tabela regressiva de IR?
A tabela regressiva é um sistema de tributação usado em investimentos de renda fixa no Brasil. A lógica é simples: quanto mais tempo você deixa o dinheiro aplicado, menor é a alíquota de Imposto de Renda que você paga no resgate.
Funciona assim: o governo incentiva você a investir no longo prazo reduzindo o imposto cobrado. Se você resgatar em menos de 6 meses, paga 22,5% de IR sobre o lucro. Se deixar mais de 2 anos, paga apenas 15%. É uma diferença enorme que pode aumentar significativamente sua rentabilidade líquida.
Exemplo prático da diferença
Investimento: R$ 10.000 em CDB a 14% ao ano por 2 anos e 1 dia
Lucro bruto: R$ 3.040
Com tabela regressiva (15%): você paga R$ 456 de IR → lucro líquido R$ 2.584
Se fosse alíquota fixa de 22,5%: pagaria R$ 684 de IR → lucro líquido R$ 2.356
Diferença: R$ 228 a mais no seu bolso só por esperar 2 anos!
A tabela completa: quanto você paga em cada prazo
Aqui está a tabela regressiva oficial da Receita Federal. Grave bem essas faixas porque elas vão te ajudar a decidir quando vale a pena resgatar seus investimentos:
| Prazo da Aplicação | Alíquota de IR | Observação |
|---|---|---|
| Até 180 dias (6 meses) | 22,5% | Alíquota máxima - evite resgatar aqui |
| De 181 a 360 dias (6 a 12 meses) | 20,0% | Ainda pesado, só se for emergência |
| De 361 a 720 dias (1 a 2 anos) | 17,5% | Razoável, mas ainda não é o ideal |
| Acima de 720 dias (mais de 2 anos) | 15,0% | Alíquota mínima - objetivo final! |
Repare que a diferença entre resgatar com 6 meses (22,5%) e esperar mais de 2 anos (15%) é de 7,5 pontos percentuais. Em valores grandes, isso representa milhares de reais no seu bolso. Por isso eu sempre digo: planeje seus investimentos de renda fixa pensando no longo prazo.
Quais investimentos seguem a tabela regressiva?
Nem todo investimento usa a tabela regressiva. Aqui está a lista completa do que segue e do que não segue:
✅ Seguem a tabela regressiva:
- Tesouro Direto: Todos os títulos (Selic, IPCA+, Prefixado) seguem a tabela regressiva. Use nossa Calculadora de Tesouro Direto para simular o impacto.
- CDB (Certificado de Depósito Bancário): Todo CDB, independente do banco ou taxa, segue a tabela regressiva.
- LC (Letra de Câmbio): Menos comum, mas também segue.
- Debêntures incentivadas: São isentas de IR, mas se fosse tributada, seguiria regressiva.
- Fundos de renda fixa de longo prazo: Fundos que têm prazo médio acima de 365 dias.
- COE (Certificado de Operações Estruturadas): Segue tabela regressiva.
❌ NÃO seguem a tabela regressiva:
- LCI e LCA: São isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas. Não tem IR nenhum, então não faz sentido falar em tabela. Leia nosso guia completo de investimentos isentos de IR.
- Poupança: Também isenta de IR (mas rende muito pouco).
- Ações: Têm tributação diferente (15% ou 20% dependendo do valor negociado no mês). Veja nosso post sobre como declarar investimentos no IR.
- FIIs (Fundos Imobiliários): Rendimentos mensais são isentos de IR, mas ganho de capital na venda tem alíquota fixa de 20%.
- Fundos de renda fixa de curto prazo: Têm tabela regressiva diferente, mais pesada (começa em 22,5% e vai até 20%).
Atenção: IOF nos primeiros 30 dias
Além do IR, existe outra pegadinha: o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) incide se você resgatar em menos de 30 dias. A alíquota começa em 96% (sim, 96%!) no primeiro dia e vai reduzindo até zerar no 30º dia.
Resumo: nunca, jamais, em hipótese alguma resgate um CDB ou Tesouro Direto antes de 30 dias, a não ser que seja uma emergência extrema. Leia nosso post sobre IOF em investimentos para entender melhor.
Quando a tabela regressiva realmente compensa?
Agora a pergunta de R$ 1 milhão: vale a pena esperar só para pagar menos imposto? Depende. Vou te mostrar os cenários onde compensa e onde não compensa:
✅ Compensa esperar quando:
- Você está perto de mudar de faixa: Se faltam 2 meses para completar 2 anos (passar de 17,5% para 15%), espere! A diferença é significativa.
- Não precisa do dinheiro agora: Se não é emergência e o objetivo é de longo prazo mesmo, deixe render até a menor alíquota.
- O investimento ainda está rendendo bem: Se o CDB ou Tesouro ainda está com boa taxa (acima de 100% do CDI ou IPCA+ bom), mantenha.
- Investimento travado: CDBs com carência já te "obrigam" a esperar. Use isso a seu favor para alcançar a menor alíquota.
❌ Não compensa esperar quando:
- Emergência real: Saúde, emprego, necessidade urgente. Imposto é secundário aqui.
- Oportunidade melhor apareceu: Se surge um CDB pagando 140% do CDI e o seu está pagando 100%, pode fazer sentido trocar mesmo pagando mais IR.
- Mudança de objetivo: Se você decidiu comprar imóvel ou investir em outra coisa mais adequada, não trave seu dinheiro só por causa do IR.
- Diferença pequena de prazo: Se você está na faixa de 20% e falta 1 ano para chegar em 17,5%, faça as contas. Às vezes não vale travar o dinheiro por 2,5 pontos percentuais.
Como calcular o impacto do IR na sua rentabilidade
Vou te ensinar a fazer o cálculo para saber exatamente quanto o IR vai "comer" do seu rendimento. É simples:
Fórmula básica:
Rentabilidade Líquida = Rentabilidade Bruta × (1 - Alíquota IR)
Exemplo 1: CDB a 14% ao ano, resgate com 6 meses (alíquota 22,5%)
- Rentabilidade bruta: 14% ao ano = aproximadamente 6,8% em 6 meses
- IR: 22,5% sobre o lucro
- Rentabilidade líquida: 6,8% × (1 - 0,225) = 6,8% × 0,775 = 5,27% em 6 meses
Exemplo 2: Mesmo CDB, resgate com mais de 2 anos (alíquota 15%)
- Rentabilidade bruta: 14% ao ano
- IR: 15% sobre o lucro
- Rentabilidade líquida anual: 14% × (1 - 0,15) = 14% × 0,85 = 11,9% ao ano
Repare que no longo prazo (2+ anos), você leva para casa 11,9% ao ano líquido. No curto prazo (6 meses), só 10,85% ao ano equivalente. É uma diferença de mais de 1 ponto percentual ao ano só por causa do imposto.
Use nossa Calculadora de CDB para simular diferentes cenários de prazo e alíquota. Assim você vê na prática quanto o IR impacta seus investimentos.
Estratégias para pagar menos IR legalmente
Aqui vão minhas dicas práticas para você reduzir impostos de forma inteligente:
1. Escalone seus investimentos
Em vez de aplicar tudo de uma vez em um único CDB, divida em vários CDBs com datas diferentes. Exemplo: se você tem R$ 50.000:
- R$ 10.000 em CDB que vence em 6 meses (só para liquidez)
- R$ 15.000 em CDB que vence em 1 ano
- R$ 25.000 em CDB que vence em 2+ anos (para pegar alíquota de 15%)
Assim você tem liquidez escalonada e maximiza a parte que vai pagar menos imposto. Leia nosso post sobre como montar uma carteira de investimentos.
2. Priorize LCI/LCA quando fizer sentido
LCI e LCA são isentas de IR. Então, se você acha uma LCI pagando 90% do CDI, compare com um CDB pagando 120% do CDI:
- LCI 90% do CDI: rende 90% líquido (sem IR)
- CDB 120% do CDI com IR de 15%: rende 120% × 0,85 = 102% líquido
Nesse caso, o CDB ainda ganha. Mas se o CDB pagar só 110% do CDI, a LCI fica competitiva. Sempre compare a rentabilidade líquida. Veja nosso comparativo entre CDB e LCI/LCA.
3. Planeje resgates para objetivos de longo prazo
Se você está investindo para aposentadoria, casa própria em 5 anos, faculdade do filho em 10 anos, não faz sentido resgatar antes. Monte sua estratégia para alcançar sempre a alíquota mínima de 15%. Leia nosso guia completo de planejamento financeiro.
4. Atenção ao come-cotas dos fundos
Fundos de investimento têm uma particularidade chata: o come-cotas. O IR é cobrado antecipadamente 2x por ano (maio e novembro), mesmo sem você resgatar. Nos fundos de longo prazo, a alíquota do come-cotas é 15%, mas se você resgatar antes de 2 anos, paga mais IR no resgate. Saiba mais no nosso post sobre come-cotas.
Checklist: como usar a tabela regressiva a seu favor
- ✓Invista com prazo definido: Sempre que aplicar em CDB ou Tesouro, tenha em mente quando vai precisar do dinheiro.
- ✓Anote as datas: Marque no calendário quando seu investimento completa 6 meses, 1 ano e 2 anos. Isso te ajuda a decidir o melhor momento de resgate.
- ✓Compare rentabilidade líquida: Ao escolher entre dois investimentos, sempre calcule o retorno líquido (depois do IR) e não só o bruto.
- ✓Evite resgates antes de 30 dias: Por causa do IOF. Planeje com antecedência.
- ✓Use nossa calculadora: Simule diferentes cenários antes de investir. Ferramentas como nossa Calculadora de CDB te dão a visão exata do impacto do IR.
- ✓Diversifique prazos: Tenha investimentos vencendo em prazos diferentes para ter liquidez quando precisar sem pagar IR alto.
Erros comuns que fazem você pagar mais IR
Vou listar os erros que eu vejo clientes cometendo toda semana:
❌ Erro 1: Resgatar antes de completar 2 anos por ansiedade
"Adriano, meu CDB venceu com 1 ano e 11 meses, posso resgatar?" Não! Espere mais 1 mês. Você vai pagar 17,5% de IR ao invés de 15%. Em R$ 100.000 aplicados, isso dá R$ 2.500 de diferença só por 30 dias de ansiedade.
❌ Erro 2: Comparar só a taxa bruta
"Esse CDB paga 14% e aquele paga 12%, vou no de 14%!" Mas se você vai resgatar em 6 meses, o de 14% vai render 10,85% líquido. Se o de 12% fosse uma LCI (isenta), renderia 12% líquido. Sempre compare o líquido, não o bruto.
❌ Erro 3: Não planejar a reserva de emergência separada
Se você não tem reserva de emergência separada (em Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária), vai acabar resgatando investimentos de longo prazo em momentos ruins e pagando IR alto. Leia nosso guia completo de reserva de emergência.
❌ Erro 4: Esquecer do come-cotas nos fundos
Muita gente investe em fundos sem saber que o IR é cobrado 2x por ano automaticamente. Isso reduz o efeito dos juros compostos e pode pegar você de surpresa.
Perguntas frequentes
1. Se eu resgatar exatamente no dia 721 (2 anos e 1 dia), já pago 15% de IR?
Sim! A tabela considera "acima de 720 dias", então no dia 721 você já entra na alíquota mínima de 15%. Por isso sempre vale esperar completar os 2 anos certinhos.
2. A tabela regressiva vale para previdência privada (PGBL/VGBL)?
Sim, mas com algumas diferenças. Na previdência você pode escolher entre tabela regressiva e progressiva no momento da contratação. A regressiva de previdência é um pouco diferente: começa em 35% e vai até 10% (mais de 10 anos). É um tema específico que merece atenção separada.
3. Se eu investir hoje e resgatar daqui 3 anos, vai ter mudado a tabela regressiva?
A tabela regressiva atual está em vigor há muitos anos e não tem previsão de mudança. Mas é o governo, então sempre existe o risco de alterações futuras. De qualquer forma, vale a regra vigente no momento do resgate, então você estaria protegido pela legislação da época.
4. Tem como fugir do IR em renda fixa?
Legalmente, sim: invista em LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures incentivadas ou poupança — todos são isentos de IR. Mas atenção: a rentabilidade bruta geralmente é menor justamente porque são isentos. Sempre faça as contas para ver o que vale mais a pena. Veja nosso post sobre investimentos isentos de IR.
5. O IR é descontado automaticamente ou preciso declarar?
O IR é retido na fonte automaticamente no momento do resgate. A corretora ou banco já desconta e repassa para a Receita Federal. Você não precisa pagar nada manualmente. Mas precisa sim declarar seus investimentos na declaração anual de Imposto de Renda. Leia nosso guia completo de como declarar investimentos.
Conclusão: paciência é rentável
A tabela regressiva de IR é um dos maiores incentivos que o governo brasileiro oferece para quem investe pensando no longo prazo. A diferença entre pagar 22,5% (curto prazo) e 15% (longo prazo) pode representar milhares de reais no seu bolso ao longo dos anos.
Resumo do que você precisa gravar: invista com prazo definido, evite resgates antes de 2 anos sempre que possível, compare sempre a rentabilidade líquida (depois do IR) e planeje com antecedência para não precisar resgatar na alíquota errada.
Use nossas calculadoras para simular diferentes cenários e entender na prática quanto o IR vai impactar seus investimentos. E lembre-se: pagar menos imposto legalmente não é "gambiarra" — é planejamento tributário inteligente.
Quer ajuda para otimizar seus impostos?
Posso analisar sua situação e te mostrar como estruturar seus investimentos para pagar o mínimo de IR possível de forma legal. Cada caso é um caso, e às vezes pequenos ajustes fazem uma grande diferença no longo prazo.
Falar com Adriano no WhatsApp
Adriano Freire
Financial Advisor
Assessor de Investimentos credenciado pela Ancord, atuando através da Autem Investimentos, escritório parceiro do BTG Pactual.
Meu trabalho é ajudar você a investir com clareza, estratégia e disciplina. Acredito que educação financeira vem primeiro — por isso escrevo de forma direta, sem jargão, e sempre mostrando os dois lados da moeda.

